A Volta do Papel e o Reencontro com a Moda Impressa.

Vivemos imersos no digital, e parece que tudo precisa ser rápido, prático, resumido em uma tela de celular. Mas, nos últimos tempos, comecei a perceber que nem tudo que é prático é, de fato, eficaz. E nem tudo que parece barato realmente vale a pena. Foi com essa inquietação que reencontrei o valor do papel , e, mais do que isso, sua força.

Tenho uma filha que nasceu já dentro do universo digital. Uma verdadeira nativa das telas. Ainda assim, ela adora livros. Gosta de pegar, folhear, sublinhar, mergulhar nas páginas com atenção. Isso me chamou atenção. E me fez pensar também em mim. Quando voltei a estudar Direito, me vi tentando ler longos textos jurídicos na tela do computador. Era cansativo. Difícil manter o foco. Mas, quando comecei a imprimir os textos e estudá-los no papel, tudo mudou. Eu lia com mais atenção, absorvia melhor o conteúdo e, acima de tudo, me sentia mais presente na leitura.

Essa experiência pessoal me levou direto de volta à minha origem profissional: a fotografia. Quando comecei, a febre dos catálogos no atacado estava no auge. Aqui no Ceará, especialmente em Fortaleza, a fotografia de moda viveu um momento de forte valorização. Todas as marcas que queriam vender bem no atacado investiam em catálogos impressos , e investiam com seriedade. Não era só para mostrar roupas; era para mostrar conceito, identidade, cuidado.

As revendedoras esperavam ansiosamente os catálogos. Folheavam como se estivessem tocando nos próprios tecidos. As fotos precisavam transmitir textura, caimento, estilo. Era como entregar um pedaço da coleção em forma de papel. O catálogo tinha peso, presença. Era material de venda, argumento visual e, muitas vezes, o primeiro contato emocional do cliente com a marca.

Com o avanço do digital, isso sumiu quase de uma hora para outra. O WhatsApp virou catálogo. PDFs tomaram o lugar da impressão. Mas será que isso realmente foi um ganho? Ou foi apenas uma adaptação apressada, impulsionada pelo custo?

É verdade que imprimir encarece o processo. Mas será mesmo que o digital sai tão barato assim? Um trabalho digital de qualidade também exige investimento em equipe, estrutura, tempo e planejamento. Quando esse investimento não existe , e tudo se resume a enviar fotos por WhatsApp, muitas vezes mal feitas, sem padrão, sem identidade visual , o que era para ser solução vira problema. A comunicação perde força, a coleção perde valor, a marca perde impacto.

Acredito que o catálogo impresso pode , e deve , voltar a fazer parte da estratégia de marcas que vendem no atacado. Não como substituto do digital, mas como um reforço. Uma presença concreta da marca nas mãos de quem vende.

E mais: imprimir um catálogo é também uma declaração. É dizer: “acreditamos nesse produto, nessa coleção, nessa identidade”. É dar à revendedora uma ferramenta concreta, que ela pode mostrar, marcar, dobrar, usar com orgulho. Um catálogo impresso não se perde no fluxo de mensagens. Ele fica. Ele comunica. Ele impressiona.

Se a minha filha, que nasceu entre telas, se encanta com o papel… Se eu, que estou acostumado com imagens digitais, redescobri o prazer de estudar no papel… Então por que a moda não pode também se beneficiar desse retorno? A imagem ainda vende — e quando bem apresentada, vende muito mais.

O papel, quando bem usado, não é um retrocesso. É um diferencial. É peso, é presença, é cuidado. E talvez, hoje, seja exatamente disso que muitas marcas estejam precisando para se destacar.

Vivemos um momento em que tudo parece passageiro, descartável. As redes sociais são alimentadas por conteúdo que mal dura 24 horas. As imagens se perdem entre uma notificação e outra. Mas o papel resiste. O papel permanece.

Voltar a investir em catálogos impressos, especialmente no mercado de moda atacadista, pode ser mais do que uma decisão de marketing , pode ser um reposicionamento de identidade. Um sinal claro de que aquela marca tem consistência, tem estética, tem propósito. E que ela se importa com a forma como será vista, tocada, lembrada.

Como fotógrafo, eu vi com meus próprios olhos o impacto que um bom catálogo gerava. Vi o brilho no olhar de quem recebia o material novo. Vi clientes fechando pedidos apenas pelo que viam nas páginas impressas. Vi marcas ganharem força a partir da imagem.

Hoje, mais do que nunca, acredito que vale a pena olhar para trás com inteligência , e perceber que algumas ferramentas não ficaram obsoletas, apenas foram deixadas de lado cedo demais. O papel pode voltar, sim. Mas não como antigamente , agora com mais intenção, com mais qualidade, com mais estratégia.

E para quem trabalha com moda, com imagem e com venda, talvez a pergunta não seja mais “vale a pena imprimir?”, mas sim: “por que não voltar a marcar presença de verdade?”

Porque o que é bem impresso, é bem lembrado.
E o que é bem lembrado, é vendido.

E de boa sem querer ofender , No fim das contas, não é o tecido que vende. É a imagem. É ela que traduz a roupa, que comunica, que cria conexão com quem compra. Porque sem imagem, a roupa é só matéria , e matéria sem desejo não gera venda.

Fontes de pesquisa:

Dado relevante: Apenas 11% dos brasileiros se informam por mídia impressa, mas há um movimento de revalorização entre públicos específicos. Reuters Institute for the Study of Journalism, Universidade de Oxford.

Exemplos concretos:

Sports Illustrated, Nylon e Vice anunciaram versões impressas recentemente, após anos exclusivamente digitais. A Capricho, no Brasil, também voltou ao impresso em edições especiais.

Fontes jornalísticas que cobriram isso: Folha de S.Paulo, Estadão, Meio & Mensagem, The Guardian, New York Times.

Dado relevante:

68% dos brasileiros afirmam que “é mais fácil entender e lembrar o que leem no papel do que na tela”.

64% preferem ler conteúdos longos em formato impresso.

Tendências em Marketing Sensorial e Experiência do Cliente:

“Brand Sense” de Martin Lindstrom , mostra como envolver mais sentidos (visão, tato, olfato) aumenta a conexão emocional com marcas. O impresso envolve o tato e cria uma relação mais física com a marca.

Dado: Materiais impressos geram mais atividade emocional e maior retenção de informação do que conteúdos digitais. Estudo da Temple University (EUA), patrocinado pela USPS.

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