
Eu cheguei a uma conclusão amarga, mas inevitável: estamos vivendo a era da falência do pensamento crítico. E digo isso com uma mistura de preocupação, cansaço e até indignação. A frase que ouvi, “você pode vencer 40 estudiosos com um fato, mas não pode vencer um idiota com 40 fatos”, grudou na minha mente não apenas como provocação, mas como diagnóstico. Ela traduz, com uma precisão assustadora, a tragédia intelectual da nossa sociedade.
O que observo ao meu redor é simples: as pessoas confundem pensar com opinar, confundem sentir com argumentar, confundem emoção com evidência. Vivemos em um mundo onde uma sensação parece ter mais peso que um dado, e onde a certeza irracional tem mais força que qualquer demonstração lógica. Isso não é apenas desconfortável. É perigoso.
Sempre acreditei que pensar criticamente era uma qualidade elementar do ser humano, mas percebo cada vez mais que não é. Pensar criticamente é um exercício disciplinado, um hábito construído, um compromisso contínuo de questionar, investigar, duvidar e — talvez o mais difícil, admitir a possibilidade de estar errado. Pensar criticamente não é apenas pensar; é pensar bem.

Quando volto às origens do pensamento crítico, lá na Grécia Antiga, vejo sua força e sua beleza. Sócrates irritava porque perguntava demais; Platão distinguia aparência de realidade; Aristóteles organizava a lógica para separar argumentos de truques. A dúvida era sinônimo de inteligência, não de fraqueza. Questionar era virtude, não afronta. E essa tradição atravessou séculos, impulsionando ciência, filosofia, política, direitos humanos. Foi o pensamento crítico que nos libertou de ídolos, mitos e autoridades que nunca mereceram ser autoridades.
E é justamente isso que estamos perdendo. Hoje, vejo uma sociedade que não busca compreender, busca confirmar. As pessoas não querem saber o que é verdadeiro; querem saber o que se alinha ao que já acreditam. Não investigam; apenas clicam, compartilham, replicam. A lógica e a razão foram substituídas por seis segundos de emoção bruta. E o que era para ser pensamento virou apenas defesa apaixonada do próprio ego.
No Brasil, esse cenário ganha contornos ainda mais preocupantes. Aqui, a politicagem barata virou religião, e parte dos brasileiros se tornou discípulos fiéis de narrativas que não resistem a cinco minutos de análise honesta. O país parece dividido entre torcidas, não entre ideias. E quando a política vira torcida, a verdade vira irrelevante.

É doloroso admitir, mas boa parte da população é manipulada com facilidade assustadora. Não porque sejam más pessoas, mas porque foram educadas para obedecer, não para questionar. Para repetir, não para investigar. Para seguir líderes, não para seguir argumentos.
E isso nos empurra para um abismo social e intelectual.
Quando uma sociedade deixa de pensar, ela deixa de escolher.
Quando deixa de escolher conscientemente, ela se torna massa de manobra.
E quando se torna massa de manobra, qualquer demagogo a conduz.
Eu falo tudo isso com convicção, mas também com preocupação.
Perder o pensamento crítico não significa apenas errar mais; significa nos tornarmos indefesos diante de mentiras, líderes oportunistas, manipulação emocional e narrativas sedutoras.
Criticar a sociedade atual não é pessimismo.
É constatar um fato: estamos mais conectados do que nunca, mas mais incapazes de discernir do que jamais fomos.

Se existe algo que eu aprendi, é o seguinte:
não existe liberdade possível sem pensamento crítico.
E, neste momento, vejo essa liberdade sendo corroída — não por tiranos externos, mas pela nossa própria preguiça de pensar, pela nossa pressa de responder, pela nossa ânsia de ter razão.
O abismo não está à nossa frente.



