

Hoje sinto que o Brasil está de luto. O Congresso aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição que, em essência, cria uma verdadeira casta intocável. Deputados e senadores, já amparados pelo artigo 53 da Constituição, que garante a inviolabilidade civil e penal por suas opiniões, palavras e votos, agora buscam se blindar ainda mais contra qualquer tentativa de responsabilização. A Constituição, em seu artigo 5º, é clara: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. No entanto, a chamada PEC da Blindagem contraria frontalmente esse princípio, ao condicionar o processamento criminal de parlamentares à autorização do próprio Congresso, um órgão composto pelos seus pares, que se tornam cúmplices da impunidade. Isso significa que crimes, desde corrupção até delitos passionais, poderão ser encobertos sob a proteção política de colegas, anulando a isonomia que deveria reger o Estado democrático de direito.
Mais grave ainda, a PEC determina que parlamentares só poderão ser presos com autorização da própria Casa Legislativa, mesmo em casos de flagrante de crimes inafiançáveis, criando prazos artificiais e obstáculos que ferem o princípio republicano. Além disso, amplia o foro privilegiado para presidentes de partidos com representação no Congresso, afastando qualquer possibilidade de julgamento nas instâncias inferiores da Justiça. Ao analisarmos esse cenário, percebemos que tais medidas não têm como objetivo proteger a democracia, mas sim blindar interesses corporativos e pessoais. Em vez de enfrentar os reais problemas da sociedade , fome, desemprego, saúde precária, violência e desigualdade social, os parlamentares dedicam seu tempo a legislar em benefício próprio. O Centrão, aliado a outras bancadas, inclusive religiosas, muitas vezes se coloca acima das necessidades coletivas, como se estivesse em um pedestal inalcançável.
É impossível não recordar que, décadas atrás, já se denunciava a existência de centenas de “picaretas com anel de doutor”, expressão eternizada em uma conhecida canção. Infelizmente, a realidade pouco mudou, seguimos sendo governados por representantes que, em boa parte, não se preocupam com o povo, mas com a manutenção de privilégios. Por isso, não posso aceitar passivamente esse retrocesso. A sociedade brasileira não pode permitir que a democracia seja minada por dentro, através da criação de uma casta política intocável. Com a proximidade das eleições de 2026, temos a oportunidade de mudar esse quadro.
Cabe a nós, cidadãos, refletir, fiscalizar, denunciar e, sobretudo, votar com consciência. É nas urnas que podemos retirar do poder aqueles que tentam destruir os pilares democráticos do país. Se a Constituição nos garante igualdade perante a lei, é nossa responsabilidade lutar para que ela não seja transformada em letra morta. Não podemos abrir mão de um princípio tão fundamental. O Brasil não precisa de castas privilegiadas, mas de representantes comprometidos com a justiça, com a transparência e, acima de tudo, com o povo brasileiro.
“Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou,são trezentos picaretas com anel de doutor.
Eles ficaram ofendidos com a afirmação,que reflete na verdade o sentimento da nação.
É lobby, é conchavo, é propina e jeton, variações do mesmo tema sem sair do tom.”