Nos últimos tempos, tenho percebido cada vez mais como o Brasil tá dividido. E não é só na política, não, tá em tudo: nas conversas do dia a dia, na família, entre amigos, no trabalho. Parece que a gente vive pisando em ovos pra falar o que pensa.
Outro dia, tive uma conversa com um amigo, um cara que é empresário e médico, bem de direita. Ele vive reclamando de impostos, dizendo que o governo só atrapalha. Foi nesse papo que comecei a perceber como essa divisão toda é movida mais por emoção do que por razão: medo, raiva, frustração. Hoje em dia, discutir ideias virou discutir quem “tá certo” e quem “tá errado”.
Em certo momento, eu brinquei e o chamei de fascista. A reação dele foi imediata. Ele ficou todo incomodado e começou a me questionar: “O que é fascista? O que tu entende como fascismo?” Era como se eu fosse burro e ele o sábio. No fundo, ele se doeu com a palavra que, provavelmente, descreve parte do que ele é ; e acabou usando essa reação pra me atacar, se defendendo com a própria confusão que a palavra provocou. Foi aí que percebi como hoje as palavras viraram armas: em vez de abrir diálogo, elas são usadas pra atacar e se proteger.



O Brasil é desigual desde sempre, e isso cria um abismo enorme: quem tem mais não quer perder o que tem, e quem tem menos luta pra ter o mínimo. E é aí que entra a questão do imposto, que ele tanto reclama. Claro, parte do dinheiro some em corrupção, ninguém tá negando isso. Mas grande parte vai pra escola, hospital, rua, projeto social ; ajuda direta pra quem precisa. O que incomoda mesmo não é a corrupção, é ver que esse dinheiro vem de quem tem mais, que o governo tenta redistribuir, e não de quem mal consegue sobreviver. Aí bate aquele desconforto: tirar um pouco do rico pra ajudar o pobre parece injusto pra quem sempre se sentiu no topo.
E é exatamente essa sensação que reforça a visão de “inimigo do povo”: quando alguém se incomoda mais com a ascensão do outro do que com a injustiça em si, é porque medo e ego falam mais alto que a razão. O imposto deixa de ser só imposto e vira espelho: mostra quem se preocupa com a própria vantagem e quem se preocupa com o coletivo.
Lembra daquela corrida de aquecimento, uns dias atrás, quando você me perguntou o que é fascismo? Pois é, olhando com atenção, dá pra ver que fascismo, nazismo ou até comunismo autoritário têm muito em comum: sempre é um mandando e o resto obedecendo. A diferença tá na propriedade privada: num desaparece, no outro é controlada. Mas a violência, o medo e a imposição são sempre iguais.
Sendo bem sincero, às vezes eu olho pra ti e vejo um quê de fascista. Não por fotos ou símbolos, mas pelo jeito de pensar e agir. Tu trabalhas com o público, mas parece não gostar muito do povo. Reclamas de pagar imposto, mas nem percebe que esse dinheiro mantém o país de pé e permite que o cara da periferia compre um pão, uma cerveja ou um brinquedo pro filho.
Agora me diz: se teus funcionários tivessem uma vida boa , casa, carro, tranquilidade, tu acha que tua empresa ia render menos? Ou não seria o contrário? Todo mundo sabe: gente feliz trabalha melhor. Mas tu não enxerga isso. Ficas preso nesse medo besta de perder o que tens, e nem percebe que é esse medo que te prende. Tua modo de vida só existe porque tem gente pobre sustentando ela.
E é aí que o fascismo começa, meu amigo: quando o medo do outro vira desculpa pra continuar sendo injusto.
Nota: Não vai me bater por essa né?