A fotografia humanista nasce do desejo de olhar para o cotidiano e reconhecer nele a essência do humano. Ela não busca espetáculos nem encenações, mas sim a poesia contida nos gestos simples, nas ruas movimentadas, nos silêncios compartilhados. O trivial, aquilo que muitas vezes passa despercebido, torna-se matéria-prima de beleza e de memória. É o contar da história de alguém, é a narrativa da vida em seu fluxo natural.



Esse olhar ganhou força especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Robert Doisneau e Édouard Boubat passaram a registrar a vida comum nas ruas da Europa, revelando dignidade, emoção e humanidade em meio à reconstrução. Cartier-Bresson cunhou a ideia do instante decisivo, aquele momento único em que a cena, o olhar e o gesto se alinham de forma perfeita para dar sentido a uma fotografia.
Na França, esse movimento se consolidou como uma verdadeira escola, chamada de fotografia humanista francesa, mas rapidamente ganhou ecos em outros lugares, influenciando a fotografia documental, o fotojornalismo e a fotografia de rua. O fotógrafo humanista não é um mero observador: ele participa com o olhar, cria empatia, reconhece no outro aquilo que o torna semelhante a si mesmo.
Na fotografia autoral, esse gesto se transforma em linguagem pessoal. O autor não busca apenas documentar, mas traduzir sua visão de mundo em imagens. Cada enquadramento, cada luz, cada silêncio visual é uma escolha consciente. Nomes como Sebastião Salgado no Brasil levaram essa abordagem a uma dimensão global, mostrando que o humano pode ser retratado em sua grandeza e em sua vulnerabilidade.



Já na fotografia de rua (street photography), o espaço urbano é palco desse teatro cotidiano. Rostos anônimos, cenas passageiras, encontros inesperados são registrados para revelar a vida como ela é, em movimento. Vivian Maier, descoberta tardiamente, tornou-se símbolo dessa prática: invisível no ato de fotografar, mas eternamente presente em suas imagens.
A fotografia humanista, autoral e de rua se encontram no mesmo ponto: na crença de que a beleza está no comum, de que cada vida é uma narrativa digna de ser contada. Retratar o cotidiano não é apenas mostrar o banal — é revelar que o banal é, na verdade, extraordinário.