O olhar que escutar, a cor fala e o silêncio olha

Steve McCurry

Sempre que observo uma fotografia de Steve McCurry, sinto como se o tempo parasse por um instante. Há algo profundamente humano em suas imagens — uma força silenciosa que me atravessa e me faz lembrar por que escolhi a fotografia como linguagem. Mais do que belas composições, suas fotos são pontes entre mundos. Elas me lembram que a imagem é, antes de tudo, um ato de escuta.

Tecnicamente, McCurry domina com maestria a cor. Suas imagens são banhadas em tons saturados, mas nunca gritantes. Ele usa a cor como um vetor emocional — não como ornamento, mas como elemento narrativo. É como se cada matiz tivesse um papel na história que ele deseja contar. E, como fotógrafo, eu aprendi com ele que a cor precisa ter propósito. Um vermelho pode carregar dor, fé ou revolução. Um azul, silêncio, distância ou introspecção.

Mas não é só na paleta que ele impressiona. A composição de suas fotografias é rigorosa, quase matemática. Muitas vezes ele trabalha com simetrias precisas, molduras naturais, sobreposições sutis. A regra dos terços está ali, mas o que realmente o diferencia é a capacidade de fazer com que esses recursos desapareçam atrás da emoção. A técnica nunca se impõe — ela serve. E isso é raro.

O que mais me toca, no entanto, é o modo como ele se aproxima das pessoas. Existe um respeito quase sagrado nos retratos de McCurry. Não há pressa, não há exploração. Seus personagens — e sim, são personagens, embora reais — são retratados com uma dignidade que transborda a imagem. Eles não estão ali como objetos exóticos de contemplação, mas como sujeitos inteiros, olhados nos olhos.

A “Menina Afegã”, com seus olhos verdes que carregam o peso do mundo, talvez seja o exemplo mais emblemático disso. Não é só um retrato bonito. É uma síntese do olhar de um fotógrafo que sabe esperar o momento certo, que compreende a luz natural como extensão da alma humana, e que constrói intimidade mesmo em meio ao caos.

Como fotógrafo, aprendi com McCurry que não basta dominar a luz, a cor ou o enquadramento. É preciso também ter coragem para ver. E, mais ainda, coragem para ser visto de volta. A lente pode ser uma barreira ou uma ponte. No caso dele, é sempre ponte.

E é por isso que, toda vez que levanto minha câmera, tento lembrar desse equilíbrio delicado entre técnica e humanidade. Entre controle e entrega. Entre o instante e o eterno.

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