Sempre me disseram que os homens mudam. Que a sociedade, lapidada pelo esforço humano, poderia um dia se tornar perfeita. Mas quanto mais observo, mais percebo que os homens são sempre os mesmos. Não mudam em sua essência. Tentamos construir um mundo igual, sem arestas, sem espaço para a inveja, sem distinções que ferissem o coração. Mas a vida, astuta e profunda, sempre encontra uma fresta por onde escapa a desigualdade. Há quem inveje a fortuna, é verdade. Mas antes disso, há quem inveje o que não pode ser comprado. Um sorriso que ilumina, um olhar que acolhe, uma amizade que não se fabrica. Há sempre algo no outro que desperta em nós o desejo de possuir, de apropriar-se daquilo que não nos pertence. É humano. É inevitável.
Assim, percebo que os ricos e os pobres não se dividem apenas em moedas, terras ou títulos. Há os ricos de talento e os pobres de talento. Há os ricos de amor e os pobres de amor. Riquezas invisíveis que, paradoxalmente, valem mais que as visíveis. O ouro pode se perder, mas uma alma generosa permanece inquebrável. A história tentou, muitas vezes, apagar essas diferenças. O comunismo soviético acreditou poder nivelar os homens como se fossem engrenagens de uma mesma máquina. Mas esqueceu que os desejos não são uniformes, que os sonhos não cabem em planilhas, que o coração humano não se dobra ao decreto. Ao tentar apagar as desigualdades, apagou também a singularidade. Fez da igualdade uma prisão, onde a diferença era vista como crime. Do outro lado, o capitalismo, em suas contradições, nos ofereceu a liberdade de escolher, mas ao preço da desumanização. Transformou a vida em mercadoria, reduziu o amor a consumo, a amizade a interesse, a própria existência a número de produção e lucro. Deu-nos abundância de coisas, mas escassez de sentido.
E assim caminho entre dois extremos: de um lado, um sistema que quis moldar os homens em uniformidade; do outro, um sistema que os fragmenta em competição infinita. Nenhum deles alcançou o que buscamos, a dignidade de sermos diferentes sem sermos inimigos, de termos menos inveja e mais reconhecimento, de aceitarmos que a riqueza e a pobreza humanas vão muito além do dinheiro.Talvez o destino da humanidade seja este, a eterna tensão entre o sonho de igualdade e a realidade da diferença. Talvez nossa grandeza esteja em compreender que não há fórmulas capazes de apagar o que somos. Pois somos feitos de carências e abundâncias, de sombras e luzes, de talentos e falhas. Rios desiguais que, ainda assim, correm para o mesmo mar.