
Desde que comecei a explorar o mundo da fotografia, percebi que poucas cores têm o poder de capturar o olhar e provocar emoções tão intensas quanto o vermelho. O vermelho é vida pulsando, é urgência, paixão, revolta. Em minhas imagens, uso essa cor como um elemento narrativo: ela conduz o olhar, marca contrastes e acende significados ocultos nas cenas mais simples.
Ao longo da história da fotografia, o vermelho sempre encontrou espaço nos trabalhos de grandes mestres. Saul Leiter, por exemplo, foi um dos primeiros fotógrafos a me mostrar o poder da cor no cotidiano. Em suas ruas enevoadas, entre reflexos de vitrines e guarda-chuvas semiocultos, o vermelho surge tímido, quase sussurrado, mas carregado de poesia.


William Eggleston, outro gigante, me ensinou que o vermelho não precisa ser apenas belo — ele pode ser brutal e sincero. Em sua famosa imagem do triciclo infantil visto de baixo, o vermelho domina a composição, criando uma tensão quase cinematográfica entre o objeto banal e a grandiosidade da perspectiva.


Steve McCurry, com seu olhar humanista, mostrou-me como o vermelho pode carregar histórias profundas. Quem não se lembra da “Menina Afegã”, envolta num véu vermelho desbotado, olhando diretamente para a alma de quem vê sua foto? Para McCurry, o vermelho parece ser quase uma segunda pele de seus retratados, um fio condutor das emoções humanas.



Também me inspiro em Ernst Haas, que, através de suas séries vibrantes, usou o vermelho para transmitir energia e movimento, especialmente em cenas urbanas em constante transformação. Haas não via a cor como decoração, mas como parte viva da ação.


Alex Webb é outro mestre em trabalhar camadas e cores saturadas. Em suas fotografias, o vermelho é uma peça fundamental na construção de cenas densas e caóticas, que revelam histórias escondidas nos detalhes de muros, roupas e luzes.


Na fotografia de moda, Guy Bourdin revolucionou o uso do vermelho ao carregá-lo de erotismo, mistério e surrealismo. Seus anúncios provocativos não seriam os mesmos sem o uso exagerado e dramático dessa cor.


E, claro, Harry Gruyaert, cuja paleta cromática vibrante transforma as cidades e seus habitantes em composições quase pictóricas, usando o vermelho para destacar a vida escondida nos cantos urbanos.


Para mim, fotografar com o vermelho é assumir riscos. É gritar, é sugerir, é transformar o ordinário em extraordinário. Cada tom de vermelho carrega uma promessa: de movimento, de desejo, de luta. E é com essa promessa que sigo clicando, buscando nas ruas, nas pessoas e nos objetos essa centelha capaz de incendiar uma imagem inteira.