fotografia analogica

A Fotografia que Conta Histórias

Em um mundo onde a fotografia parece estar em constante reinvenção, surge um movimento que coloca o foco na subjetividade, nas emoções do fotógrafo,” a nova fotografia”. Enquanto isso, quem vem da escola da fotografia documental — como eu — olha para essa mudança com uma mistura de curiosidade, resistência e, talvez, admiração à distância.

A fotografia documental é sobre o mundo lá fora. É sobre o que acontece independentemente de nós e que precisa ser registrado para ser visto, compreendido, lembrado. Quando olho pelo visor, meu objetivo não é contar sobre mim, mas sobre o outro, sobre as histórias que existem à minha volta. Cada enquadramento é um testemunho, uma forma de dar voz ao que, muitas vezes, é ignorado ou esquecido.

A fotografia hoje, principalmente as que vemos nos espaços institucionais, por outro lado, é um convite à introspecção. Suas imagens falam de memórias, sensações e da fluidez da vida. É quase como se cada clique dissesse mais sobre quem está por trás da câmera do que sobre o que está diante dela. E isso, claro, tem seu mérito. Mas, por enquanto, meu lugar é outro.

Eu ainda acredito no poder de uma imagem clara, de uma composição precisa, de uma luz que ilumina uma verdade. A fotografia documental é uma forma de tradução, um esforço para transformar o caos do mundo em algo compreensível e, às vezes, até mesmo transformador. É um testemunho que carrega a força de sua objetividade, revelando histórias que precisam ser contadas.

Enquanto a nova fotografia explora o íntimo e o subjetivo, a fotografia documental mantém os pés no chão da realidade. Ela exige atenção ao detalhe, paciência para o momento exato, e uma responsabilidade imensa com o que será transmitido. Meu olhar ainda está voltado para isso: para o que vejo, e não para o que sinto.

Talvez um dia eu me aventure por esse caminho novo. Talvez chegue o momento em que a câmera será uma extensão do meu mundo interno, e não apenas da realidade ao meu redor. Mas, por agora, minha missão é outra. Quero contar histórias sobre o meu mundo, sobre o que está lá fora. Junta a esse texto seguem imagens da antiga estação de trem, hoje estação das artes, que sem a fotografia documental ninguém saberia como ela foi.

E, nesse mundo de imagens tão diversas, talvez a beleza da fotografia esteja justamente aí: em como ela pode ser tanto um espelho da alma quanto uma janela para o mundo.

A fotografia hoje nos ensina que uma imagem não precisa ser clara para ser significativa. Ela reflete o mundo de hoje: acelerado, confuso e cheio de camadas. Mais do que mostrar o que está diante da câmera, ela revela o que está dentro de quem fotografa e de quem observa.

Enquanto a fotografia documental e humanista continua vital para contar histórias do mundo,ela é essencial porque conecta as pessoas à realidade e às emoções humanas. Ela registra momentos históricos, preserva culturas, denuncia injustiças e desperta empatia, transcendendo o papel de arte para se tornar uma ferramenta de memória e transformação social. Em um mundo saturado por imagens e distorções da verdade, ela continua sendo um testemunho poderoso da nossa humanidade, inspirando conexão, reflexão e mudança.

A fotografia nos lembra que a arte também pode ser um espaço para introspecção, sentimentos e conexão. Afinal, nem tudo que importa é visto com clareza — às vezes, está no borrão do momento.

Fotos: Estação João Felipe,Negativos Kodak trix

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