Democracia pra quem, meu chapa?

WY7K8645 copiar edited

Sabe aquele papo bonito de que “o poder emana do povo e em seu nome será exercido”? Pois é, toda vez que ouço isso me dá vontade de perguntar: mas qual povo? O que pega ônibus lotado às 6h da manhã ou o que pega helicóptero até a fazenda no fim de semana? Porque, sinceramente, essa tal de democracia — esse sonho molhado dos gregos — parece ter feito escala errada e caiu de paraquedas no Brasil com o GPS desatualizado.

A ideia era linda: dividir as decisões sobre os assuntos coletivos entre todos os cidadãos. Todo mundo opinando, todo mundo participando, todo mundo decidindo. Mas aqui, meu caro, a gente decidiu terceirizar. Terceirizou o voto por um pacote de cimento, um botijão de gás ou um pix no dia da eleição. Depois disso, o povo some da equação e só volta a ser lembrado no próximo ciclo eleitoral, quando o político aparece de capacete em obra e falando “a gente tá junto” no Instagram.

000003 4ok

E o mais curioso — ou trágico, dependendo do humor do dia — é que os recursos públicos, que por definição são de todos, viraram espécie de cofre de pirata. E adivinha quem tem o mapa? Isso mesmo, os mesmos de sempre: deputados que viram reizinhos de emenda, prefeitos que acham que o orçamento é herança de família e senadores que só aparecem na TV quando o escândalo já estourou. E o povo? Bom, o povo tá no grupo de WhatsApp discutindo se a Terra é plana e se vacina causa Wi-Fi.

Às vezes me pergunto: será que os gregos falharam? Talvez não. Talvez eles só não imaginassem que um dia a democracia ia parar num país onde o voto é obrigatório, mas a consciência política é opcional. Onde a escola ensina o Hino Nacional, mas esquece de ensinar o que é orçamento público. Onde “representar o povo” virou sinônimo de se eternizar no cargo com auxílio-moradia, mesmo tendo casa própria.

No fundo, talvez a gente precise de mais do que reforma política. Talvez o que falte mesmo é uma boa chinelada democrática na infância. Não no sentido literal — por favor, nada de violência — mas no sentido ético: ensinar desde cedo que democracia não é fila pra votar e ir embora, é se informar, cobrar, participar. É saber que se o hospital tá sem gaze, talvez aquele outdoor com a cara do vereador tenha alguma coisa a ver com isso.

Enquanto isso não acontece, seguimos aqui, assistindo o circo pegar fogo pelo noticiário, com um sorriso cínico no rosto e o meme pronto: “Brasil, mostra tua cara” — e, infelizmente, ela tá com o CPF sujo e a ficha corrida lotada.

Compartilhe este artigo:

Artigos relacionados