O roubo sem crime que sustenta a elite brasileira

No Brasil, existe um dos maiores escândalos econômicos permanentes da história recente , e ele não acontece à margem da lei. Acontece dentro dela. Todos os anos, algo entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões, podendo se aproximar de R$ 1 trilhão, deixam de entrar nos cofres públicos por meio de isenções e renúncias fiscais. Esse dinheiro não “some”: ele fica concentrado nas mãos de poucos. Trata-se de um roubo travestido de benefício, um saque contínuo contra a maioria da população.

Chamar isso de “gasto tributário” é um eufemismo técnico. Na prática, o Estado abre mão de arrecadar de quem pode pagar, para depois alegar que não há recursos para investir em educação, saúde, merenda escolar, combate à fome ou redução das desigualdades. É uma engenharia política que transfere renda dos mais pobres para os mais ricos, de forma silenciosa, eficiente e institucionalizada.

Enquanto grandes empresas e contribuintes de alta renda desfrutam de isenções generosas, como a não tributação de dividendos, a ausência de imposto sobre grandes fortunas e benefícios setoriais pouco transparentes,  o peso do sistema recai sobre o consumo e o trabalho. Ou seja: sobre quem ganha menos.

O resultado é perverso. A família pobre paga imposto no arroz, no feijão, no gás, no transporte, na conta de luz. Já o grande acionista, o rentista e parte do alto empresariado recebem seus rendimentos praticamente intocados. Não é incompetência do Estado. É escolha política.

O dinheiro que falta na escola sobra nos privilégios. Os bilhões drenados por renúncias fiscais poderiam garantir merenda escolar de qualidade, ampliar o acesso à educação básica e superior, financiar políticas reais de combate à fome, reduzir desigualdades históricas e fortalecer o SUS, a ciência e os serviços públicos que sustentam a maioria da população.

Mas não. Esse dinheiro é sequestrado antes mesmo de virar orçamento público. Ele nunca chega à escola, ao posto de saúde ou à mesa do trabalhador. Fica retido no topo da pirâmide social, alimentando lucros, especulação e concentração de riqueza.

O cinismo atinge seu auge quando os mesmos grupos que se beneficiam dessas isenções aparecem em público clamando por “menos impostos”, “Estado mínimo” e “responsabilidade fiscal”. O discurso é seletivo: menos impostos para eles, mais sacrifício para o povo.

Quando se fala em revisar privilégios fiscais, a reação é imediata: gritos sobre insegurança jurídica, fuga de capitais, colapso econômico. Mas nunca explicam por que o país precisa continuar sustentando benefícios que não reduzem desigualdade, não geram desenvolvimento proporcional e não retornam à sociedade.

A revisão dessas renúncias tornou-se um ponto central do debate tributário justamente porque o modelo atual é insustentável e injusto. Um sistema que poupa os mais ricos e penaliza os mais pobres não é neutro: ele aprofunda a desigualdade e perpetua a exclusão social.

Não se trata de “aumentar impostos”, como tenta vender a elite econômica. Trata-se de cobrar de quem nunca pagou, de romper com um pacto histórico de privilégios que mantém o Brasil desigual por projeto.

Esses “600 bilhões” não são abstração contábil. São salas de aula que não existem, crianças com fome, hospitais sucateados, vidas precarizadas. Enquanto isso, uma minoria se protege sob o manto da legalidade para continuar acumulando.

O maior roubo do Brasil não é clandestino. Ele é público, recorrente e legitimado por quem sempre teve acesso ao poder. Questionar essas isenções não é radicalismo, não é extremismo e muito menos “comunismo”, como essa elite podre gosta de repetir para tentar desqualificar qualquer debate sério.

Questionar privilégios é direito, é justo, é o mínimo num país devastado pela desigualdade. O que é realmente obsceno é ver essa elite parasitária, que nunca sentiu o peso do imposto no bolso, reclamar de impostos como se soubesse o que é viver de salário, como se já tivesse contado moeda para comprar um pão na padaria. 

Esses FDP vivem blindados por isenções bilionárias, sugam o Estado até o osso e ainda posam de vítimas, apontando o dedo para o povo que sustenta tudo. Não têm medo de imposto,têm medo é de perder privilégio. E privilégio questionado vira chilique, vira ataque ideológico, vira histeria. O que os incomoda não é a injustiça fiscal, é a possibilidade, ainda que remota, de pagar a conta que sempre empurraram para os mais pobres.

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